Sintram aproveita o dia 25 de julho para convidar a população a olhar para quem está atrás do volante como parte essencial da rotina das cidades
Aniel Alves tem 67 anos e carrega 45 anos de estrada como motorista de ônibus. Com idade para aposentar, ele só continua trabalhando porque, como gosta de dizer, “a saúde está em dia e o coração também”. Para ele, o segredo sempre foi simples: amar a profissão e respeitar para ser respeitado.
texto: Essa paixão e entrega renderam histórias que não se apagam com o tempo. Casos lembrados com carinho, vividos com os passageiros que foram e são praticamente uma extensão da sua família ao longo dos anos: já teve bolo de aniversário dentro do ônibus, parabéns cantado por eles em coro para Aniel, cartinhas e pequenos gestos que marcavam a convivência diária. “Em algumas linhas era uma relação muito próxima, porque eu via os mesmos passageiros o ano todo. Virávamos amigos”, lembra com orgulho.
Assim como Aniel, milhares de motoristas e profissionais do transporte metropolitano escrevem, todos os dias, histórias que raramente ganham as manchetes, mas que são fundamentais para que outras histórias aconteçam. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, cerca de 6.500 motoristas são responsáveis por garantir que trabalhadores cheguem ao serviço, estudantes às escolas e pacientes aos hospitais.
Este ano, no Dia do Motorista (25 de julho), o Sintram (Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano) sugere um foco um pouco diferente para a data: mais do que parabenizar, é preciso criar cada vez mais um ambiente de respeito durante as viagens.
“Mais do que um simples cumprimento, queremos que a data inspire atitudes cotidianas de respeito e empatia para com quem faz do transporte coletivo um elo vital da mobilidade urbana. Isso vale para as empresas e para o dia a dia no convívio com a população, ”, afirma o presidente do Sintram, Rubens Lessa.
Os rostos e histórias por trás do volante
Por trás de cada volante, há histórias de dedicação que muitas vezes passam despercebidas. Motoristas que decoram o nome dos passageiros, que esperam um pouco aquela pessoa atrasada porque sabem que ele está indo para uma consulta médica, ou que recebem um “bom dia” caloroso e respondem com um sorriso, mesmo após horas no trânsito. Essa relação de confiança é comum nas linhas metropolitanas e, segundo Rubens Lessa, deve ser reforçada e evidenciada: “o motorista não é apenas um condutor, mas um personagem essencial na rotina de milhares de famílias”, comenta.
É o caso de Valtair Langamer, 62 anos, que dirige ônibus há 25 e resume com simplicidade o valor da profissão: “Aprendi que a gente tem que fazer com amor. Enquanto puder dirigir, vou dirigir. A cada dia, conheço pessoas novas, algumas que até viram amigos. Isso é muito gratificante”.
Com o trabalho no transporte coletivo, Valtair conquistou casa, carro e a tranquilidade de sustentar a família. Mas o maior legado, diz ele, é o exemplo. Seu filho, Alisson Gonçalves Magela, 27, seguiu seus passos: “Meu pai é minha referência. Ele conquistou tudo com honestidade no volante. Isso me motivou a seguir o mesmo caminho”, afirma.
De acordo com dados da CNT – Confederação Nacional do Transporte, motoristas de ônibus figuram entre os profissionais que mais impactam diretamente a vida urbana, transportando, juntos, mais de 85% dos passageiros do transporte público brasileiro. Na RMBH, a operação dos ônibus percorre vários quilômetros todos os dias, enfrentando congestionamentos, condições climáticas adversas e desafios de infraestrutura, mas com um compromisso claro: levar cada passageiro em segurança até o destino.
Essas histórias, multiplicadas por milhares de trajetórias anônimas, são a engrenagem invisível que conecta mais de 500 mil passageiros por dia na Grande BH. “Os motoristas são a grande estrela do transporte coletivo. São eles que materializam todo o esforço de planejamento, logística e investimento do setor. Precisamos reconhecê-los como sociedade, tratá-los com respeito e valorização, porque são parte essencial do nosso dia a dia”, destaca Lessa.
Respeito começa de dentro: liderança humanizada e saúde mental
Além do apelo à população, o Sintram aproveita a data para reforçar que o respeito ao motorista começa dentro das garagens. Nos últimos anos, a entidade intensificou programas para capacitar lideranças em gestão humanizada, alinhada à NR 01 (que trata de saúde e segurança no trabalho), promove treinamentos de capacitação, sobretudo em temas como segurança no trânsito, atendimento ao público e direção defensiva e investiu em projetos de acolhimento psicológico e escuta ativa.
“Estamos mudando mentalidades. Um motorista bem tratado, que se sente valorizado, é um profissional que transmite segurança e acolhimento aos passageiros. Dessa forma, temos acompanhado constante e diariamente, ao lado das empresas associadas, o cumprimento dessas iniciativas, bem como a saúde física e mental dos profissionais. Sabemos que temos um caminho de evoluções a ser percorrido e por isso o tema é prioridade. O bem-estar dos motoristas reflete diretamente na qualidade do serviço”, acrescenta Lessa.
O presidente do Sintram completa que esse é um dia para refletir e agir. Para ele, além das iniciativas de fora para dentro, um “bom dia”, um “obrigado”, um ato de paciência no embarque ou desembarque podem fazer diferença para quem passa horas no trânsito, lidando com pressões e responsabilidades invisíveis aos olhos da maioria.
“Quando respeitamos o motorista, estamos respeitando o nosso próprio direito à mobilidade de qualidade. Ele é o elo humano que mantém o transporte coletivo funcionando, e sem ele não há cidade que se mova”, conclui.